*Gracilene Maria Almeida Muniz Braga
No mundo ocidental o homem é concebido como sujeito sexual e a mulher como seu objeto, cabendo a ele as decisões e ações em prol da família, chegando a ser adorado como o ser
provedor do sustento de todos.
Historicamente, as conquistas, as guerras, o domínio do outro, foram investidos na figura do homem a armadura da masculinidade e, com ela, da violência. Esse machismo está tão entranhado no homem que, por exemplo, na questão do estupro, ele acredita que quando a mulher, no ato da relação forçada diz “não”, nada mais é do que um joguinho de sedução que significaria “sim”. No caso do marido agressor, entende seu ato como parte de uma correção e admite ao ser detido que “cometeu apenas excessos” e, que, por várias vezes antes do ato, avisou sobre o que poderia acontecer, como se isso justificasse sua violência. Para ele o que se coloca à prova é a sua moral, honra e virilidade; por isso a agride.
É a em nome da preservação do rótulo de “macho” que os infratores, em sua maioria homens violentos, aumentam a estatística de crimes contra a vida – dos mais variados – seguindo uma cultura velha e patriarcal que os emoldurou como tal.
A questão da violência contra mulheres é tratada na família, como direito do homem se ela não responde às suas expectativas fazendo valer a “lei do silêncio”. Tal comportamento atinge os filhos, que muitas vezes fazem leitura da violência como algo comum, perpetuando-a para as gerações futuras.
Por outro lado, a mulher quando chega a pedir ajuda ou mesmo denunciar o agressor é porque já está no seu limite, sem saída. É falar ou morrer. Muitas vezes não chegam a dizer nada só lhe sobrando a segunda opção.
Há um pudor muito grande em abordar certos assuntos tanto na família quanto na comunidade, em relação à violência doméstica, a questão é tratada como “crimes da paixão”, colocando o marido no papel de vítima, assim as barreiras se tornam muitas vezes intransponíveis perante os olhos de quem sofre a agressão, tornando a mulher vítima da invisibilidade social do Estado, que não se prepara para agir, proteger ou mediar o problema, vigorando a idéia que “em briga de homem e mulher ninguém mete a colher”. A colher não resolveria, mas um par de algemas sim, fazendo valer não a lei do mais forte, mas na justiça que nesse assunto não pode se manter cega.
É preciso gerir espaços de convivência, onde profissionais preparados sirvam de ponte para solução e formar grupos onde outras mulheres que já passaram pelo mesmo problema possam compartilhar experiências, construindo uma imagem de mulheres capazes de quebrar as barreiras do silêncio e se tornarem livres da agressão e do agressor.
Dar voz a quem tem muito a dizer, ouvi-las e orientá-las quanto aos caminhos possíveis. Ajudá-las a gritar se for preciso.
Honramo-nos de sermos Maria sim, Amélia não.
Publicado no site do CRESS-MG no dia 25/09/2008
Suporte Bibliográfico
ALVES, A. M.; COURA-FILHO, P. Avaliação das ações de atenção às mulheres sob violência no espaço familiar, atendidas no Centro de Apoio à Mulher (BH), entre 1996 e 1998. Ciências e Saúde Coletiva, 6(1): 243-257, 2001.
DANTAS-BERGER. S. M.; GIFFIN, K. A violência nas relações de conjugalidade: invisibilidade e banalização da violência sexual? Caderno Saúde Pública, Rio de Janeiro, 21(2): 417-425, mar-abr, 2005.
MINAYO, M. C. S. Laços perigosos entre machismo e violência. Ciências & Saúde Coletiva, 10(1): 18-34, 2005.
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